segunda-feira, 17 de março de 2008

A Aldeia Gaulesa


"Estamos no ano 50 antes de Cristo. Toda a Gália foi ocupada pelos romanos... Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses ainda resiste ao invasor. E a vida não é nada fácil para as guarnições de legionários romanos nos campos fortificados de Babaorum, Aquarium, Laudanum e Petibonum..."

Pois é galera, assim começa a História de Asterix, clássico das histórias em quadrinhos, criado em 1959 na França por Albert Uderzo e René Goscinny. Vale a pena conferir, pois essa história conta sobre um povo que aguentou durante anos as investidas do Império Romano. Porém, um dia o muro cai, e o Império domina aquela aldeia. Porto Alegre vive uma situação parecida, dentro do Partido dos Trabalhadores. A lógica hegemônica de potílica venceu ontem nas prévias aqui em Porto Alegre. O muro caiu, o Império da política tradicional entrou aqui no PT de Porto Alegre. Mas isso não é a primeira vez que isso acontece aqui, no Rio Grande do Sul.

Desde a época do tema desse blog, vivemos por situações cíclicas na política aqui do RS. Após a batalha de Caiboaté, em 1756, fomos incorporados à Coroa Lusitana. Após a Guerra da Cisplatina, que levou à independencia do Uruguai, lutamos pela autonomia do nosso Estado em 1835 em relação ao Império Brasileiro. Durante 10 anos fomos uma República autonoma, porém, após o Tratado de Ponche Verde, nos reincorporamos ao Império Brasileiro. Em 1889 nós gauchos participamos do levante pelo fim da Monarquia, proclamando a República naquele 15 de Novembro. Durante o Séc. XX a cultura gaúcha balizou muitas vezes a Política Brasileira. A cultura política gaúcha possui uma visão de autônomia do seu povo, algo incômodo para a cultura política hegemônica da metade do Séc. XX até os dias de hoje, visão essa incentivada pela Indústria Cultural. Para entender melhor sobre a Indústria Cultural, recomendo ler o livro Dialética do Esclarecimento, de Theodor Adorno.

Quando caiu o Muro de Berlim em 1989, onde uma onda capitalista criou força na Queda de Braço da Guerra Fria, aqui em Porto Alegre é plantada uma semente que vai ser marco referencial da última década do Séc XX. Dessa semente surgiu o Fórum Social Mundial, onde no Primeiro Ano do Século XXI foi pensada na primeira vez da história do globo terrestre uma ação conjunta humana para repensar os males do capitalismo no Mundo. Porto Alegre foi sede do FSM devido a uma nova forma de gestão pública da cidade: o Orçamento Participativo, onde as pessoas cidadãs de Porto Alegre debatem sobre onde se deve aplicar o dinheiro da cidade. Uma Evolução quanto a História da Política e forma de gestão de Estado. Hoje os Estados são dominados pela lógica Neoliberal, algo que irei comentar especificamente num texto posterior.

Com a eleição do Prefeito José Fogaça em 2004, esse recurso administrativo vem sendo sucateado, voltando a operar na mesma lógica capitalista de gestão de Estado. De Democracia Participativa, retornamos ao modelo de Democracia Representativa, onde a política é um campo de clientelismo e troca de favores. A política tradicional, como dizem os estudiosos da Ciência Política.

As prévias do PT nesse último domingo foi uma eleição onde, de um lado estava o modelo político que tranformou Porto Alegre de 1989 até 2000 numa visão de Democracia Participativa, e do outro modelo tradicional vingente no mundo atual de Democracia Representativa. Por 56 votos, num universo de 4330 votos, vence a política pragmática da representatividade. Agora é esperar o resultado das eleições em outubro. Mas até lá só penso uma coisa: Roma invadiu a Gália!!!! O Império venceu dessa vez.